Odeio escrever sobre o amor. Odeio que com tanta coisa incrivelmente interessante que tenho, sou, vivo, vejo… eu esbarre com frequência nessas historinhas de amor. Que me veja refém do passado, presente, futuro e que perceba que o amor tenha sempre feito marcas importantíssimas em minha história.
Claro que quando uso a palavra amor não estou me referindo somente ao amor. Falo do amor a homens também. Será que amei tantos homens assim? Ou apenas amava a possibilidade de amar? Como se cada “amor” me concedesse passaportes diferentes, com cada um eu poderia acessar porões e sótãos desconhecidos de mim mesma. Covarde. Não sabia como andar em minha casa sem ter um homem a me guiar.
Eu amo escrever sobre o amor. Amo como minha coluna sente calafrios e me move a lugares que jamais teria a ousadia de sonhar sozinha. Amo a possibilidade que o amor me traz e me trouxe, os tons coloridos e cinzentos que ele assina em meus textos, em minha vida, em meu olhar.
Eu já escrevi tanto sobre o amor. Quantas vezes de coração dilacerado, eu pingava meu sangue entre as palavras que jorravam de dentro de mim.
Em algum momento no final dos meus vinte anos, eu não aguentava mais escrever sobre o amor. Eu queria amar a mim mesma, estava cansada de esperar o amor dar certo. Exausta de estar numa plateia de um grande teatro, quando eu queria mesmo era conhecer as coxias e camarins que a vida oferece quando você não espera o amor dar certo.
De repente o amor deu certo e eu nem percebi.
Mas eu ainda estava cansada de escrever sobre o amor.
Tinha a plena certeza de que nós mulheres poderíamos viver - e escrever- tanto mais.
Porém a ideia que o amor é tema pequeno às mulheres também é fruto das fundações que querem nos silenciar. Por que as inquietações, as dores e os anseios amorosos dos homens são dignos de literatura e das mulheres dignos de esquecimento?
De algum modo eu julguei o amor tema pequeno para ser escrito.
Mas estou a me des-julgar.
Compartilharei, às vezes, poemas e reflexões acerca do amor, (amor?).
Não apenas da perspectiva de uma mulher casada de 37 anos. Trago também a adolescente, a jovem, as tantas que já fui e ainda serei.
Quando escrevo sobre o amor não escrevo sobre quem amei/amo, escrevo sobre histórias. Sou uma inventora de memórias irreais.
O amor nunca deixou de me habitar, porque nunca foi sobre o ser amado, sempre foi sobre mim mesma e aquilo me pulsa do avesso. O amor sempre foi um pretexto para eu ter sangue, lágrima, riso e gozo para alimentar a caneta com que escrevo.